[A resenha a seguir não representa a opinião pessoal da página ou de quem escreveu o texto, é apenas um retrato imparcial sobre a referida produção. Nem incentiva a prática de qualquer ato ilegal.]
Narco Santos é uma série de 6 episódios sul coreana lançada pela Netflix no ano de 2022 e dirigida por Yoon Jongbin. A série conta a história de Kang Ingu (Ha Jungwoo), um homem comum, que vai tentar ganhar a vida em outro país e acaba envolvido num esquema de tráfico de drogas internacional.
Conhecemos Kang Ingu, ainda na infância. Filho mais velho de três irmãos, ainda adolescente ele assume a responsabilidade de cuidar dos irmãos mais jovens quando seus pais morrem. Inteligente e esforçado, ele cresce na vida com muito esforço enquanto constrói sua família. Sua inteligência e expertise são seus principais trunfos. E é através dessas suas duas características que ele consegue abrir uma oficina e depois comprar o karaokê em que começou trabalhando como garçom, nunca perdendo nenhuma oportunidade.
Mas Ingu não quer viver a vida como seus pais e trabalhar até morrer. É quando seu velho amigo Eungsoo (Hyun Bongsik), aparece com uma proposta de importação de arraias para a Coreia. O problema é que o peixe vem do outro lado do mundo, do pequeno país sul-americano, Suriname. Óbvio que logo de cara podemos imaginar que isso não vai dar certo. Mas determinado a dar uma guinada na vida, Ingu aceita a proposta. E inicialmente da tudo certo. Mas o Suriname é um país atolado em miséria, que serve como rota de tráfico de drogas e é dominado por duas gangues que ditam as leis: uma chinesa e outra coreana.
Por motivos alheios a sua própria vontade Ingu acaba conhecendo o pastor Jeon Yohwan (Hwang Jungmin), um missionário simpático que na verdade é o maior traficante da região. E para poder voltar para casa, reencontrar a família e recuperar o dinheiro perdido, após se meter em uma série de problemas, Ingu terá que se infiltrar na gangue do pastor Jeon sob ordens do Serviço Nacional de Inteligência Coreana.
Essa ligação entre Ingu e o NIS é feita pelo personagem Choi Changho (Park Haesoo), um agente que trabalha há anos tentando desmantelar a quadrilha do pastor Jeon, e que só agora está vendo a chance de realizar esse feito. O problema é que muitas vezes seus planos sairão do controle e o próprio Ingu terá que trabalhar sozinho para manter seu pescoço a salvo.
A história é para quem gosta de produções que envolvem o submundo do crime e suas relações perigosas. E ao longo dos episódios acompanhamos o plano mirabolante de um homem comum tentando sobreviver nesse ambiente louco.
A HISTÓRIA REAL
Narco-Santos é baseada numa história real de um homem coreano que foi para o Suriname com um amigo onde investiu seu dinheiro para um negócio de fornecimento de soldas de navio e acabou se envolvendo com as gangues da região e com o maior traficante do país, com quem manteve negócios desconhecendo totalmente o envolvimento com o mundo do crime.
Para proteger sua identidade, esse homem é identificado apenas como K. Já o pastor Jeon é inspirado em Cho Bonghaeng, um sul coreano que fugiu para o Suriname após cometer crimes na Coreia. Ao contrário do personagem Jeon, Cho Bonghaeng iniciou um negócio de peixes ainda nos anos 1990 para encobrir seu roubo de petróleo, apenas quando o contrabando deixou de ser viável ele partiu para o comércio de drogas. Mas a boa relação com o alto escalão do país e inclusive o presidente do Suriname, a produção segue fielmente.
Com a licença poética que a produção lhe permitiu, o diretor Yoon Jongbin fez algumas adaptações da obra que foi gravada na República Dominicana e na Coreia do Sul, mais precisamente na Ilha de Jeju. Como o fato de o traficante manter a fachada de pastor de uma igreja. Segundo o próprio diretor a intenção era dar ao personagem uma posição que lhe permitisse ganhar facilmente a confiança das pessoas.
Em entrevista ao The Korea Herald, o diretor contou que conversou pessoalmente com K, e ele e sua família visitaram o set de filmagem. Segundo seu relato, a partir do que ouviu do principal personagens dessa história, o coreano ficou no Suriname por 3 anos, e inclusive lutou ao lado de gangues de Chinatown (lugar de reduto da gangue chinesa) para ganhar a confiança dos traficantes a sua volta. E diferentemente do que aparece na série, K, em muitos momentos enfrentou situações perigosas, sozinho, contando apenas com a própria sorte, apesar de realmente ter sido “recrutado” pelo NIS.
Mas como estava arrependido de seus atos anteriores, ele não desistiu, conforme revelou em conversa particular, ao diretor. Utilizando o mesmo plano apresentado na série para ganhar a confiança do traficante: um suposto receptor disposto a fazer negócio na Coreia.
E seus planos, apesar de perigosos, deram certo e culminaram na prisão de Cho Bonghaeng em 2009, aqui no Brasil (uma realidade bem diferente da retratada na série), mais precisamente em São Paulo, já que, uma das maiores dificuldades para prender o traficante era que não havia tratado de extradição entre Suriname e Coreia, à época. Depois disso Cho foi transferido de volta para a Coreia onde foi condenado à 10 anos de prisão e 100 milhões de wons em multa.
Para construir a história, o diretor se baseou em evidências de promotores do processo e do NIS, além de gravações de K durante operações secretas. Além disso toda a história foi revelada em 2011 ao Korea JoongAng Daily, mídia jornalista sul coreana que tem associação com o The New York Times. A identidade de K ainda é mantida em segredo, assim como o destino de Cho Bonghaeng, que segundo um canal sul-coreano morreu há alguns anos, mas isso nunca foi confirmado pelo Governo ou pelo NIS.
Mas a produção não agradou muito o governo do Suriname sob a alegação que a forma como o país foi retratado o rebaixava unicamente a uma rota de drogas, imagem que há muito eles lutam para eliminar. O que levou o país a declarar que tomará medidas legais. Em que irá resultar essa possível desavença, apenas futuramente descobriremos.
Enquanto isso a curiosidade gira mesmo em conhecer os detalhes dessa história real e o misterioso homem "comum" que foi o centro dela.
Não retirar sem os devidos créditos.
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