PACHINKO 2 é sobre apostar, sobreviver e resistir
- Jéssica Caroline
- há 5 dias
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Pachinko retorna em sua segunda temporada tão emocionante e delicado quanto na primeira parte. Sunja e sua família continuam sofrendo em um Japão ainda mais dilacerado pela 2ª Guerra Mundial que deixarão marcas jamais esquecidas. Noah, seu filho mais velho, enfrentará algumas verdades difíceis de lidar, e seu neto Solomon, parece fazer escolhas complicadas para alcançar seus objetivos. Conseguirão, os membros da família Baek resistir com as consequências das apostas que fizeram?
Pachinko é uma série sul coreana feita e distribuída pela Apple TV, com duas temporadas. Baseada no livro de mesmo nome de Lee Minjin, a história acompanha a vida de Sunja, uma jovem coreana. Passeando por todas as fases de sua vida, vamos acompanhar desde sua infância até sua velhice.
Em meio a um mundo cheio de inseguranças e incertezas, Sunja nasce em uma Coreia do início do século XX, colônia do Império Japonês. A vida de Sunja muda drasticamente quando dois homens cruzam seu caminho no início da sua vida adulta: Koh Hansu, um homem rico de quem engravida; e Baek Isaac, um pastor viajante que está a caminho do Japão para encontrar o irmão.
Quando Sunja toma ciência que o futuro que Koh Hansu lhe oferece está longe de seus princípios, Sunja aceita a oferta de casamento de Isaac e toma a dura decisão de embarcar com seu marido para o Japão.
Num país estranho, onde não conhece ninguém e não consegue criar raízes Sunja fará escolhas que entende serem as melhores para proteger quem ama, nesse ambiente estranho mergulhado em pobreza e em uma guerra que traz consequências para uma infinidade de pessoas comuns, representados muito bem por ela e sua família.

Sabemos que a forma de contar uma história em um livro e em uma série de TV são bem diferentes, ainda que a história seja exatamente a mesma. Mas nessa transferência nem sempre as coisas dão certo, e a história que conquista muitos leitores perde a sua essência no meio do caminho. Graças a Deus, esse não é o caso de Pachinko.
Com sensibilidade, delicadeza e precisão, as páginas dos livros são transformadas em imagens com a expansão que é necessária, sem perder a base da história. Ouso dizer que tornou algumas questões até mais interessantes.
O que para nós é apenas mais um momento da história, como muitos outros, a série mostra que para aquelas pessoas, aquela era a vida delas, sua realidade dia após dia, a cada momento precisando conviver com a incerteza de saber se verão o próximo dia.
Esse foi um ponto positivo da série, abrindo a visão para inserir melhor os personagens naquele universo em que existem. As dificuldades, racionamentos e limitações de um povo sacrificado em um país que impunha toda sua força em uma guerra. E depois a necessidade de ter que se reconstruir e reconstruir cada um a sua própria identidade, como pessoa, como ser humano digno e como coreano, que no fim é a necessidade intrínseca da família Baek.
Intensificando ainda mais a relação entre Sunja e seu neto Solomon, a trama faz contraponto entre passado e futuro. O questionamento entre o que a geração passada fez para sobreviver e o que a geração futura está fazendo para honrar isso, é muito forte e interessante.

Sunja representa a tristeza que carrega e o peso do que viu, do que sofreu e das pessoas que teve que se despedir contra a vontade. Enquanto Solomon carrega o peso da responsabilidade de fazer valer esse sacrifício. Um conflito silencioso que se mantém suspenso entre essas duas gerações.
Mas como nem tudo é perfeito, a série Pachinko reduz bastante uma parte do livro que também é bastante importante, que é o crescimento dos irmãos da segunda geração da família Baek: Noah e Mozasu.
No livro, acompanhamos a infância, adolescência e toda a formação desses dois personagens como pessoa e entendemos como os caminhos e escolhas que fizeram influenciaram no seu futuro, e talvez isso poderia ser mais bem explorado na trama.
Não é nenhum segredo saber que Noah é filho de Koh Hansu, mas a profundida de seu personagem vai muito além dessa questão. No livro, Noah tem uma necessidade urgente de ser como o pai que o criou. Isaac é seu grande exemplo e objetivo, ao mesmo tempo em que ele precisa lidar com os questionamentos sobre quem ele é de verdade.
O livro traz através do personagem de Noah, as perguntas de toda uma geração que não se identifica, não se encaixa ou não têm o direito de se encaixar em nenhum lugar. Nascidos no Japão, filhos de coreanos, mas não aceitos por nenhuma das pátrias.
No livro, Noah tem uma necessidade palpável de ser aceito como um japonês. Carregando o peso de ser o mais velho, tudo que ele quer é ser aceito e se encaixar, e ao mesmo tempo atender as expectativas de todos que estão a sua volta, família, estudos, carreira.
Enquanto seu irmão mais novo, Mozasu, que não é tão bom com o cérebro, aprende cedo que usar os punhos e a força física talvez seja mais rápido para resolver os problemas.
Mozasu não pensa tanto sobre quem é, de onde vem e a que lugar pertence, porque guarda dentro de si a certeza de que é unicamente coreano, funcionando como um pilar de sustentação, assim como sua mãe, Sunja. Ele precisa resolver os problemas que surgem e permanecer firme para apoiar quem precisa, para isso, ele precisa de soluções rápidas, por isso nem sempre usa o meio mais correto, mas o mais prático e não tem arrependimentos por isso, porque fez para proteger a família.
Ouso dizer, que ao finalizar, Pachinko nos deixa com um gosto de “quero mais”. Temos a necessidade de mergulhar mais no universo da família Baek e no âmago da força que eles carregam para sobreviver e guardar suas raízes, mas também, como leitora do livro, compreendo que a história chegou ao seu fim.

A vida de Sunja, Mozasu e Solomon não se encerram nas páginas dos livros, gosto de pensar que eles continuam existindo, vivendo suas vidas e lutando para sobreviver em cada guerra pela qual precisam enfrentar.
A série nos permite desejar saber o que virá a seguir na vida de Solomon, que começa trilhar caminhos aparentemente tortuosos. Se você conhece um pouco de história, deve saber que o universo em que o neto de Sunja está inserido observa no horizonte mais uma guerra, que foi a crise econômica japonesa do início dos anos 1990.
Esse momento nos permitiria acompanhar o mesmo ciclo de antes, mas em uma nova perspectiva. Assim como Sunja precisou fazer as escolhas que entendeu serem as melhores e precisou lidar com as consequências delas no momento em que viveu aquela guerra, seu neto Solomon também precisará fazer escolhas e encarar o peso de decidir o futuro das próximas gerações.
Porém, entendo que conhecer esses personagens e as experiências que passaram para determinar suas decisões e forjar seus futuros se encerra no momento certo. Já que cada um desses personagens não está contando apenas a sua história, mas a de milhares de vida que nunca se encerram e não tem fim. Conteúdo exclusivo, não retirar sem os devidos créditos!
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