Porque as coreanas não querem ter filhos?
- Rami
- 20 de out. de 2022
- 4 min de leitura

No ano de 2022, a Coreia da Sul mais uma vez foi apontada como o país com a menor taxa de fertilidade do mundo. São 0.81 crianças, ou seja, menos de uma criança por mulher, nível esse que vem diminuindo pelo sexto ano consecutivo. Uma escolha que é feita individualmente pode ocasionar impactos de em larga escala na sua sociedade, que tem sua economia influenciada em um país sem "futuro". Qual seriam os motivos então, para as famílias, principalmente as mulheres, estão decidindo não engravidar em um país de primeiro mundo?

Bolsa família?
Quando se pensa em ter um filho na Coreia do Sul, assim como em qualquer lugar do mundo, a primeira coisa a se pensar são nos gastos. A Coreia do Sul lidera a lista dos lugares mais caros para criar um filho desde o nascimento até os 18 anos de acordo com pesquisa, mas para combater os números em queda da taxa de natalidade o governo coreano proporcionou incentivos financeiras para as famílias que decidirem crescer. Sob a nova política, o comitê Presidencial sobre a Sociedade do Envelhecimento e a Política da População, fornecerá 300.000 won (U$ 275) como bônus todos os meses para todos os bebês no primeiro ano após o nascimento a partir de 2022, enquanto o subsídio mensal em dinheiro será gradualmente expandido para 500.000 won (US$ 457) até 2025. Além disso, o governo distribuirá um bônus em dinheiro de 2 milhões de won (US $ 1.827) aos futuros pais para ajudar a cobrir suas despesas pré-natais a partir de 2022.
Desigualdade de responsabilidade
O país tem a maior disparidade salarial entre homens e mulheres de todos os países desenvolvidos. A maior parte do trabalho doméstico e dos cuidados com os filhos na Coreia do Sul ainda recai sobre as mulheres e é comum que as mulheres parem de trabalhar depois de ter filhos ou que suas carreiras fiquem estagnadas. Essencialmente na cultura coreana, muitas mulheres ainda se sentem forçadas em escolher entre ter uma carreira e ter uma família, quanto ao motivo pelo qual deixaram a carreira, em uma pesquisa 32,8% disseram não ter nenhuma pessoa ou instalação confiável o suficiente para cuidar de seus filhos, enquanto 31,2% disseram achar que cuidar dos filhos é mais importante do que trabalhar. Outros 21,4% disseram que não podiam trabalhar ou cuidar adequadamente de seus filhos enquanto mantinham ambos, e 6,4% disseram que tinham que gastar muito dinheiro na contratação de uma babá. Por não querer sacrificar suas carreiras, então, as mulheres cada vez mais rejeitam a ideia de terem filhos.
"Meu chefe disse: 'Quando você tiver um filho, seu filho será sua prioridade e a empresa virá em segundo lugar, então você ainda pode trabalhar?'"
Moon Jeong, cidadã coreana.
Mãe solo
Com tanta desigualdade, as mães solos na Coreia do Sul continuam lutando. Elas podem registrar seus filhos usando seu sobrenome sob novas medidas para reduzir o estigma frequentemente enfrentado pelas mesmas além dos custos educacionais e os baixos salários das mulheres. Para se ter uma noção, mais de 90% das crianças hoje entregues para adoção na Coreia do Sul nascem de mães solo, e os adotados argumentam que a principal razão pela qual as crianças são entregues é o estigma social que as mães solo enfrentam. Mães solo eram tão indesejadas na Coreia do Sul que mães grávidas sem maridos são muitas vezes forçadas a esconder suas gravidezes antes de serem encorajadas a desistir de seus filhos. Na década de 1980, no auge das adoções internacionais da Coreia, pelo menos oito em cada 10 crianças enviadas ao exterior nasceram de mães solo. A Associação Coreana de Famílias de Mães Solteiras (KUMFA) surgiu com o objetivo de criar uma sociedade na qual mães solo possam criar seus filhos sem que o estigma social de sua situação afete suas vidas, a fim de fornecer ambientes familiares para mães e filhos durante as temporadas de férias. Além disso, a organização também oferece programas de apoio educacional, de advocacia e aconselhamento para mães solo.
"Fiquei horrorizada com a ideia de que essas mulheres não tinham a opção de criar seus filhos não porque legitimamente não queriam criar seus filhos, mas porque não havia ninguém para apoiá-las"
Shannon Heit, coreana adotada por americanos.
Casamento e feminismo
Como em outros lugares da Ásia, a pressão para se casar com alguém do sexo oposto para continuar a linhagem de sangue da família é forte na Coreia do Sul, mas pesquisas recentes sugerem que o sentimento está mudando. Menos mulheres sul-coreanas acreditam que precisam se casar. O feminismo também está ganhando ritmo em outras áreas. Um grupo crescente de mulheres decidiu se rebelar contra os ideais de beleza de longa data em um país com uma das maiores taxas de cirurgia plástica per capita. As mulheres apenas estão recuperando o controle sobre suas vidas.
Em meio ao rápido envelhecimento, espera-se que a Coreia do Sul se torne uma sociedade superenvelhecida em 2025, na qual a proporção de pessoas com 65 anos ou mais atingirá 20% da população total, o que pode gerar um grande problema econômico. São grandes as iniciativas iniciativas do atual governo para a mudança nesses números, então porque os números continuam caindo? Simples, essas medidas não são voltadas para mulheres, são para famílias que consideram serem formadas por um homem e uma mulher. O apoio financeiro do governo favorece famílias adotivas que recebem salários maiores do que as próprias mães solo receberiam se mantivessem seus filhos. Esse fato retrata o porque do número de nascimentos continuar diminuindo, pois as mães e mulheres que são protagonistas da história ainda são tratadas como coadjuvantes.
Recomendação:
Em When the Camellia Blooms (2019), a mãe solo Dongbaek encontra forças para enfrentar o preconceito da sociedade em um novo amor.
Disponível: Netflix e Drama Fansubs

No drama Oh My Baby (2020) Jang Ha Ri, vice-chefe de departamento de uma revista de pais, só quer ter um bebê, mesmo que isso signifique pular o casamento.
Disponível: Netflix e Subarashiis Fansub.

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