Chegamos ao Setembro Amarelo, o mês de combate ao suicídio. Durante esse mês os alertas sobre o tema intensificam. E é óbvio que não ficaríamos de fora dessa campanha. É comum, inclusive, vermos indicações de k-dramas sobre transtornos mentais e temas afins, nesse período, mas nossa proposta esse mês é trazer histórias inspiradoras para fazer lembrar a todos que ainda há esperança e não devemos desistir.
My Mister acompanha Donghoon (Lee Sunkyun, de Parasita) e Jian (IU). Ele é um engenheiro estrutural que vive uma vida infeliz, mas nunca reclama e Jian, uma empregada temporária que trabalha na mesma construtora de Donghoon, a princípio parece grosseira, mas esconde um passado cheio de tristezas.
Donghoon é uma pessoa passiva, nunca se rebela, nem diante de Joonyoung (Kim Yeongmin): seu ex-colega de faculdade, que apesar de ser mais novo que ele, é seu superior, tenta armar um plano para fazê-lo ser demitido, e ainda mantém um caso com sua esposa. Por outro lado, não há quem fale mal de Donghoon, todo mundo que o conhece diz que ele é gentil e nunca faz nada errado.
Já Jian parece revoltada com a vida, mas é apenas uma garota de 21 anos que ninguém nunca se preocupou em dar atenção. Todas as pessoas que passaram pela sua vida lhe deixaram uma cicatriz, começando pela própria mãe que a abandonou quando ela ainda era criança. Apesar disso, ela guarda profunda consideração por aqueles que a ajudam, como o zelador da construtora e o próprio Donghoon.
Há ainda Sanhoon (Park Hosan) e Gihoon (Song Saebyeok), respectivamente o irmão mais velho e o mais novo de Donghoon. Sanhoon tinha um bom emprego, mas depois de demitido voltou a morar com a mãe juntamente com seu irmão caçula que era um cineasta em ascensão, mas perdeu todo o prestígio depois de um filme ruim. Ambos acabam entrando num negócio de limpeza juntos, e apesar de inicialmente relutarem, estão felizes por finalmente serem úteis.
Mas os irmãos de Donghoon não são os únicos fracassados aos olhos da sociedade. No bar que vão todas as noites, eles se encontram com os velhos amigos do bairro. Cada um deles foi bem sucedido, mas precisou recomeçar depois dos 40 anos. Representando uma crítica a sociedade e ao mercado de trabalho, que prefere o lucro em prol das pessoas e faz com que aqueles que são mais velhos se achem inúteis, depois de toda uma vida de dedicação.
Boa parte da história, inclusive, se passa no trabalho de Donghoon. Em meio a briga pelo poder da empresa, em que ele acaba envolvido mesmo contra a vontade, é que sua relação com Jian se desenvolve, baseado na pena recíproca. Ele percebe que a grosseria e indiferença de Jian são frutos do mundo cruel que ela conheceu desde cedo. Já Jian sente pena de Donghoon pela sua passividade ao ponto de ser patético.
Apesar do título, não espere que Donghoon seja o salvador de Jian. Donghoon a ajuda sim, afinal ele tenta pagar sua dívida e a ajuda a cuidar da avó até o fim; mas Jian com sua resiliência, permanece firme em seu propósito, mesmo quando tentam derrubá-la. Tentando fazer justiça, ainda que por meios ilícitos.
E é dessa forma que a ligação dos dois é construída, com profundidade, não limitada a um romance tradicional. Donghoon e Jian, inclusive, nem ficam juntos, como muitos de nós torcem (talvez para evitar mais críticas do público coreano diante da diferença de idade dos protagonistas), mas isso não diminui em nada a riqueza dessa história com personagens que se assemelham a pessoas reais, com vidas reais e problemas reais que apenas estão tentando sobreviver em meio a selva humana, utilizando as armas que conseguem ao longo do caminho em busca de um pouco de paz.
Por isso, eles nos ensinam que não devemos desistir. Jian demonstra que a tenacidade de uma pessoa é muito maior do que ela imagina, podendo resistir as mais adversas situações e Donghoon representa uma pessoa que consegue olhar de verdade os outros a sua volta. Outros esses que, muitas vezes estranhos precisam apenas de alguém que lhes estenda a mão com um pouco de generosidade.
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