A definição do dicionário para a palavra "fã" é exemplificada como "pessoa que tem grande afeição ou demonstra grande interesse por (alguém ou algo)". Desde que nos conhecemos por gente vamos desenvolvendo nossos gostos e por fim nossa identidade e no meio desse caminho que muitas vezes é difícil e tortuoso, ser fã de quaisquer coisa com que você se identifique pode te fazer sentir um pouco menos sozinho no mundo. Entretanto, como tudo nesse mundo, em excesso o fanatismo pode ter repercussões trágicas. Quando falamos de fanatismo exagerado, no mundo do K-pop, a primeira palavra que nos vem a mente é sasaeng, termo esse que vem da palavra "vida privada", o que é nessa questão totalmente invadida por esses indivíduos com uma obsessão . Para ser sincera, ainda tenho muita dificuldade e acredito que todos também de entender com uma pessoa se diz fã e prejudica a vida do seu ídolo, como essa relação é criada e como as histórias desses casos estão cada vez mais fáceis de se encontrar.
Embora ao longo dos anos tenha havido situações extremamente angustiantes que os ídolos do K-Pop tiveram que suportar devido aos 'fãs' delirantes, os métodos usados pelos sasaengs mudaram desde que surgiram na década de 1990 até hoje. Há relatos de tal comportamento dos fãs antes da era digital de veteranos da indústria .Com o rápido desenvolvimento da indústria e a disseminação da onda Hallyu internacionalmente nos anos 2000 e nas últimas décadas, esse comportamento disruptivo dos fãs em relação aos ídolos e celebridades coreanas também foi visto inclusive no exterior. Hoje em dia, desde que o mundo se tornou digital, tornou mais fácil para um sasaeng ter acesso à vida privada de um ídolo, ou seja, número privado, contas, detalhes do cartão de crédito e informações sobre ídolos em plataformas de mídia social e usam esses dados do modo que julgarem necessário.
Um dos possíveis motivos para a relação de um fã se desenvolver para algo patológico como fanatismo exacerbado das sasaengs, pode ser o fato do relacionamento parassocial. O mesmo, é um relacionamento unilateral em que um indivíduo exerce tempo, interesse e energia emocional em outra pessoa que está totalmente inconsciente de sua existência, um dos maiores produtos vendidos pela indústria, já que idols são impedidos de namorar para que se crie um imáginário que o mesmo está "livre" para de suas fãs, uma tática do marketing do kpop que induz um comportamento fanático. Esse vínculo especial é normalmente formado quando o fã depende excessivamente do ídolo para conforto emocional, e o fã passa a maior parte do tempo fazendo algo em relação a esse ídolo. Esse fã passa a vivenciar comportamentos e fantasias incontroláveis, podendo se sentir frustrado quando o ídolo não corresponde a eles. Essa mentalidade é o que leva à criação de sasaengs que fazem perseguição, cyberbullying, filmagem ilícita e até sequestros, essas, levaram o que significa ser um fã longe demais, como provam algumas trágicas histórias da vida real.
Em um pesquisa, foi observado que meninas que idolatram celebridades masculinas apresentarão níveis mais elevados de materialismo, principalmente quando se trata de objetos ou mídias associadas a seus ídolos. Muitas inclusive roubam itens, que podem variar de roupas a amostras biológicas, para vender ou guardar para si mesmas. Uma explicação para as atitudes traumáticas que as sasaeng provocam é que, muitas delas acreditam de certa forma que os idols lhes devem algum tipo atenção. Quando não recebem passam a "criar oportunidades" para ter alguma parte da vida do idol sob seu controle. O pensamento do idol como objeto não vem unicamente das anti-fãs mas sim, também, de suas próprias agências que são as principais responsáveis. A insufíciência de medidas protetivas visando a segurança da celebridade e inclusive a falta de pesquisa sobre esse comportamento obsessivo segue levando o k-pop e seus fãs para caminhos obscuros, afinal, a sasaeng um dia foi apenas uma fã.
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