[ALERTA: a história e o texto a seguir contém conteúdo sensível.]
CYBER HELL é um filme documentário de cerca de 105 minutos lançado pela Netflix que relata o escândalo que caiu sobre a Coreia do Sul em 2020 com a exposição de salas de bate-papo no Telegram que compartilhavam conteúdos sexuais ilegais através de vídeos e fotos de garotas que eram ameaçadas pelos líderes do esquema que tinham acesso a suas informações pessoais e de suas famílias.
Através de entrevistas de jornalistas, produtores de empresas como SBS e JTBC, policiais da Agência Cibernética e estudantes de jornalismo, que trabalharam desde o final de 2019 até início de 2020; além de animações e encenações, os telespectadores acompanham o processo de descoberta, denúncia e investigação que culminou, especialmente na prisão dos dois principais nomes dessa história, conhecidos como BAKSA (que pode ser traduzido como "Doutor"), cujo nome verdadeiro é Cho Joobin e GODGOD ("deus-deus"), Moon Hyungwook.
BAKSA comandava as salas de bate-papo ilegais cujos usuários pagavam taxas em criptomoeda para ter acesso ao conteúdo, especialmente a "Nth Room" ou "Enésima Sala", a mais nefasta de todas as salas. E GODGOD havia sido o primeiro criador desse tipo de sala e primeiro disseminador desse conteúdo.
Garotas das mais variadas idades, inclusive meninas muito jovens, eram atraídas por ofertas de empregos. Desesperadas, elas aceitavam tirar fotos suas, inicialmente sem nenhuma exigência, para possíveis vagas de modelos ou acompanhantes. Mas para conseguirem a suposta vaga, as fotos tinham que vir acompanhadas de fotos de seus documentos e assim, os distribuidores de conteúdo descobriam informações pessoais suas e para que não fossem expostas aceitavam tirar fotos e gravar vídeos de exploração sexual. O alcance do controle desses criminosos sobre suas vítimas chegava ao nível de divulgarem as turmas que elas frequentavam na escola, seu endereço e o número de telefone de seus pais.
A história começou no ano de 2018, mas só teve seu desfecho em 2020 quando o grupo de pessoas que aparece ao longo da história, juntou seus esforços para chegar aos culpados, mesmo assustados por terem suas informações também expostas ou sentindo o peso da culpa por serem ameaçados indiretamente pela exposição de outras garotas. Nesse meio tempo, dezenas de jovens foram chantageadas e expostas nas várias salas de bate papo totalizando mais de duzentos mil usuários que pagavam entre 250 mil e 1,5 milhão de wons para ter acesso ao conteúdo e, inclusive participar de vídeos ao vivo.
A história mostra os métodos usados pelos criminosos para se esconderem por trás das salas, e para não serem rastreados através do dinheiro que recebiam, surpreendendo pela organização do esquema. Além disso, mostrou também a falta de atenção da mídia e das autoridades para levar mais a sério casos do gênero, e da confiança dos culpados com a impunidade, acreditando que todos os artifícios de que faziam uso eram suficientes para protegê-los integralmente.
Ao final da história, acompanhamos a prisão dos dois principais perpetradores das salas, e descobrimos que o BAKSA foi condenado a 42 anos de prisão e o GODGOD a 34 anos, além de outros envolvidos no esquema e das várias pessoas que tinham acesso ao conteúdo que também foram investigadas e condenadas, porém com penas ainda muito mais brandas.
A identidade de BAKSA inclusive, só foi revelada após protestos e um abaixo assinado com milhões de assinaturas que exigiam a publicação dessa informação. E após a revelação, os protestos continuaram exigindo a revisão das leis coreanas quanto a gravação e divulgação de vídeos ilícitos em locais públicos e postados online.
Se você já tinha ouvido falar ou é a primeira vez que escuta a história, o filme da Netflix é muito interessante para conhecer todo o processo de investigação feito especialmente por jornalistas para chegar aos culpados. Além disso, a produção não faz qualquer menção a condenar as vítimas, como infelizmente, ainda é muito comum, mas enfatiza como a mídia, que é fundamental nesse papel de divulgação, demoram para levar casos como esse a sério.
Comentários