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A coragem de ser quem se é: Bain e a representatividade LGBTQIA+ na mídia coreana

  • Foto do escritor: Rami
    Rami
  • 30 de abr.
  • 3 min de leitura

No dia 22 de abril, Bain, integrante do grupo Just B, protagonizou um dos momentos mais marcantes — e corajosos — da história recente do K-pop. Durante um show em Los Angeles, diante de milhares de fãs, o idol declarou, sem rodeios, que é gay e que sente orgulho em fazer parte da comunidade LGBTQIA+. Em uma indústria conhecida pelo rígido controle da imagem de seus artistas, esse gesto ultrapassa a esfera pessoal: é um ato de resistência e liberdade em um espaço onde ser verdadeiro ainda pode significar ser silenciado, boicotado ou até apagado.


Apesar de todo seu avanço tecnológico e da enorme influência cultural ao redor do mundo, a Coreia do Sul ainda é profundamente conservadora quando o assunto é diversidade sexual. Ser LGBTQIA+ no país, muitas vezes, significa enfrentar o silêncio da mídia, a rejeição de patrocinadores e o risco real de ter a carreira comprometida simplesmente por viver de forma autêntica. Embora a homossexualidade não seja criminalizada, também não há leis que garantam proteção plena. O casamento igualitário não é reconhecido e o preconceito segue presente em diversos setores da sociedade.


Bain não é o primeiro a desafiar esse sistema, mas certamente é um dos poucos que ousaram fazê-lo publicamente. Antes dele, o cantor solo Holland, que debutou em 2018, também se assumiu abertamente gay e enfrentou inúmeras barreiras para conquistar espaço e reconhecimento. Jo Kwon, do grupo 2AM, ao falar abertamente sobre sua fluidez de gênero e seu apoio à comunidade queer, também precisou trilhar um caminho cauteloso em uma indústria que muitas vezes recompensa o silêncio. E quantos outros, ainda hoje, vivem escondidos, privados do direito de serem inteiros para o mundo?



É nesse contexto que surgem iniciativas como Merry Queer, programa exibido pela plataforma Wavve em 2022, que se propôs a retratar a vida e os desafios enfrentados por casais LGBTQIA+. Apresentado por Hong Seok-cheon — o primeiro artista a se assumir publicamente gay na Coreia do Sul, ainda nos anos 2000, e que enfrentou severos boicotes da mídia —, o programa busca dar visibilidade a histórias reais de amor, identidade e coragem.


Apesar das reações divididas do público coreano, entre apoios e críticas de cunho conservador, Merry Queer foi bem recebido por telespectadores internacionais e reforçou a importância de espaços que normalizem existências historicamente marginalizadas.

Hong Seok-cheon, aliás, segue sendo uma voz ativa da comunidade LGBTQIA+ na mídia. Atualmente, ele comanda o programa de entrevistas Hong Seok-cheon's Jewel Box, transmitido no YouTube ao lado de Kim Ddol-Ddol, comediante também abertamente gay. No programa, os dois recebem celebridades — muitas delas conhecidas por sua beleza ou popularidade — em um ambiente descontraído, com jogos, histórias pessoais e conversas sobre carreira, experiências de vida e, ocasionalmente, temas relacionados à vivência LGBTQIA+.


A atração tem sido elogiada por quebrar estereótipos, promover o respeito à diversidade e oferecer uma plataforma acolhedora para discussões abertas sobre identidade, aceitação e representatividade.


A luta da comunidade LGBTQIA+ na Coreia do Sul é travada diariamente — nos tribunais, nas ruas e, muitas vezes, dentro das próprias famílias. Embora o país abrigue eventos como a Parada do Orgulho de Seul, que cresce a cada ano mesmo diante de intensos protestos de grupos conservadores, os avanços legais ainda são lentos e frequentemente enfrentam resistência institucional. Casais do mesmo sexo continuam sem reconhecimento oficial, e demonstrações simples de afeto, como andar de mãos dadas, ainda podem atrair olhares de reprovação.


Mesmo assim, a coragem de quem resiste é inabalável. Jovens ativistas, artistas e cidadãos comuns continuam a lutar, exigindo não apenas tolerância, mas respeito genuíno e igualdade de direitos. Cada rosto que se revela, cada voz que se ergue, torna o caminho da mudança mais visível e possível.


Ao declarar publicamente quem é, diante de milhares de fãs, Bain abriu uma importante fresta de esperança dentro de uma indústria em que muitos ainda precisam esconder sua verdade para sobreviver. Sua coragem é um gesto silencioso — mas poderoso — para milhares de idols que vivem essa mesma batalha em segredo, sonhando com o dia em que não precisarão mais escolher entre a própria identidade e a carreira. Suas palavras ecoam além do palco: são um símbolo de resistência, de futuro e de transformação.


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